A carta anônima

Doía todas as vezes que eu precisava me olhar no espelho. Era como uma ferida na alma, dias oscilando em comer em excesso e dias sem tocar no prato. Olhos fundos, a solidão e incertezas assustadoras. 
Foi naquela manhã. Inesquecível...

Era um domingo como qualquer outro, eu observava meus cabelos desgrenhados no espelho. Meus olhos apáticos castanhos, boca pequena européia e sorriso tortinho, rosto oval e cabelos encaracolados... Havia acabado de acordar.
Na televisão os mesmos programas, em casa tudo a fazer: limpeza, diários. Mais solidão, mais falta de alguém para compartilhar a vida. Quando mexi em minha bolsa do trabalho, eis uma carta. 


Era anônima.
Era em papel estilo medieval. Estranha a princípio, mas curiosa, abri.

"Enquanto tudo parecer cru, singelo e desnorteado, seus olhos perderão o brilho de entender que a vida é o sopro mais tocante que um tornado, mais perigoso que uma tsunami e mais fugaz que o voo de uma águia. Eu quero que me encontre, mas que decifre a si mesma, e eu sei que quando se decifrar, eu sei que dia após dia, através das minhas pistas, me achará." Essas eram as palavras na carta, vinda não sabia de quem e muito menos se realmente era endereçada a mim.


A minha vida era de alguém trivial: professora jovem, passava desapercebida pela multidão, não queria holofotes e nem olhos para si. Buscava se esquivar ao máximo de tempestades emocionais após enfrentar uma recente: a perda de meus pais e filhos em um acidente de carro. 
Logo dei por desinteressada naquela carta, porque obviamente não fazia sentido me importar, já que eu era invisível até para mim mesma. 

Foi quando às 15:00h de um domingo como outro qualquer que a campainha toca e pelo olho mágico fico estática! Não acreditava que aquilo pudesse acontecer!!!





Continua......

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