A carta anônima
Doía todas as vezes que eu precisava me olhar no espelho. Era como uma ferida na alma, dias oscilando em comer em excesso e dias sem tocar no prato. Olhos fundos, a solidão e incertezas assustadoras. Foi naquela manhã. Inesquecível... Era um domingo como qualquer outro, eu observava meus cabelos desgrenhados no espelho. Meus olhos apáticos castanhos, boca pequena européia e sorriso tortinho, rosto oval e cabelos encaracolados... Havia acabado de acordar. Na televisão os mesmos programas, em casa tudo a fazer: limpeza, diários. Mais solidão, mais falta de alguém para compartilhar a vida. Quando mexi em minha bolsa do trabalho, eis uma carta. Era anônima. Era em papel estilo medieval. Estranha a princípio, mas curiosa, abri. "Enquanto tudo parecer cru, singelo e desnorteado, seus olhos perderão o brilho de entender que a vida é o sopro mais tocante que um tornado, mais perigoso que uma tsunami e mais fugaz que o voo de uma águia. Eu quero que me encontre, mas que decifre